Sonho fashionista

Vale a pena rever o curta do cineasta Mike Figgis para a coleção H&M Lanvin. Para quem não sabe, Figgis roteirizou e dirigiu o filme Leaving Las Vegas, com Nicolas Cage e Elizabeth Shue, lançado em 1995. E olha que  curioso: nos anos 80,  foi tecladista na primeira banda de Brian Ferry.

H&M na onda eco-friendly?

A H&M vai lançar esta semana, no dia 18 de março, a coleção Garden Party, supostamente feita com  materiais reciclados, sutentáveis e com baixo impacto ambiental, como poliéster reciclado, linho e algodão orgânicos.

A iniciativa até que é louvável, se desconsiderarmos o fato da marca de fast fashion lançar centenas de outras peças de materiais sintéticos, destinadas ao consumo rápido, que irão levar mais de 200 anos para se degradar no meio-ambiente. Isso sem falar no fato das grandes redes varejistas estarem intimamente relacionadas à contratação de mão-de-obra barata em países em que os direitos trabalhistas não são minimamente respeitados. Salários irrisórios, semi escravidão e assédio sexual são alguns dos fantasmas que assobram milhões trabalhores da indústria ligada à moda, globalmente.

Quem se interessa pelo assunto não pode deixar de ler “Eco Chic -O guia de moda ética para a consumidora consciente”, de Matilda Lee. Lá, a autora cita dados assustadores, e explica, por exemplo, que nas Zonas de Processamento de Exportação (parques industriais que oferecem férias de impostos, isenção de taxas e redução de subsídios), os trabalhadores (90% mulheres) não tem benefícios ou sindicatos. Em 2005, essas ZPEs já empregavam mais de 50 milhões de pessoas.

E ainda: “De acordo com estimativas da Oxfam (Oxford Committee for Famine Relief –Comitê de Oxford de Combate à Fome), menos da metade das mulheres que trabalham nas indústrias de tecido e de roupas para exportação de Bangladesh é contratada. A maioria não tem plano de saúde ou licença maternidade, trabalha em média 80 horas extras por mês e recebe apaenas de 60 a 80% dos seus ganhos –o restante é retido pelos donos das fábricas a título de aluguel, água e comida…”

Existem muitos outros casos mas, a grosso modo, o que acontece é que as grandes redes pressionam os fornecedores a fabricar grandes quantidades de itens, rápido e barato, e essa pressão é repassada para os funcionários. É verdade que muitas redes procuram fazer auditorias sociais nas fábricas de seus fornecedores, mas as pesquisas indicam que isso não é suficiente para mudar a realidade.

Como se vê, ser eco friendly é MUITO MAIS do que fazer uma coleçãozinha roupas coloridas, com tecidos amigáveis e preços camaradas. Mais do que nunca, vale a máxima: Quem não te conhece que te compre!

(via CajonDeSastre)

UPDATE: No dia 18 de março, três dias depois da publicação deste post, a imprensa noticiou a autuação de uma oficina de costura (prestadora de serviço ligada às lojas Marisa) por utilizar mão-de-obra escrava de imigrantes ilegais. Leia a matéria completa no site Brasil de Fato.