Cabelo é roupa

Tempos atrás, a marchinha de carnaval dizia: “O teu cabelo não nega mulata, pois és mulata na cor…”. Por volta de 1990, Gal Costa cantava: “Cabelo, cabeleira, cabeluda, descabelada. Quem disse que cabelo não sente, quem disse que cabelo não gosta de pente. Cabelo quando cresce é tempo, cabelo embaraçado é vento”Itamar Assunção, por sua vez, em 2004, entoava: “Eu tenho cabelo duro, mas não tenho miolo mole. Sou afro-brasileiro puro…”

Folheando meus arquivos, encontrei uma foto publicada na revista i-D em 1997, de um look de Alexander McQueen feito de cabelo. Isso me remeteu imediatamente aos desfiles das marcas FH por Fause Haten e Melk Z-Da do inverno 2011.

 

Look de Alexander McQueen na revista i-D / dezembro de 1997
Look de Alexander McQueen na revista i-D de dezembro de 1997
Desfile FH por Fause Haten - inverno 2011
Desfile FH por Fause Haten / Inverno 2011
Desfile Melk Z-da / inverno 2011
Desfile Melk Z-da / Inverno 2011

O homem é a nova mulher

Tenho visto por aí alguns sintomas de que a mistura entre os gêneros masculino e feminino está próxima de se romper.  O cartunista Laerte assumiu o crossdresser publicamente em matéria para a revista Bravo! e num vídeo em que fala sobre o assunto com naturalidade. Além disso, uma série de personalidades tem, sistematicamente, se montado para aparecer em capas de revistas. Marc Jacobs colocou perucão e salto alto para a revista Industrie; o ator James Franco fez a transex na Candy, com direito a batom vermelho e sombra azul; e Paulinho Vilhena abusou da estola de peles na publicação gay Júnior. 

O contraponto da aparente liberalização de costumes vem através da comovente entrevista concedida pela transexual Lea T. para Vivian Whiteman, na Folha de São Paulo. Lá, a bela modelo disse que “é apedrejada todos os dias”. Até quando, gente?

O estilista Marc Jacobs em foto de Patrick Demarchelier paraa capa da Industrie

O ator James Franco na capa da revista Candy, revista de moda e estilo pra transessuais, em foto de Terry Richarson

Paulo Vilhena posou para a revista gay Junior, vestido como o personagem que interpreta na peça “Hedwig e o centímetro enfurecido”

 
 

 

RIP Alexander McQueen

O mundo da moda está em choque. A imprensa britânica confirmou há pouco a morte do estilista Alexander McQueen. Segundo o site Daily Mail, ele teria cometido suicídio por enforcamento, em sua casa.

Desnecessário afirmar sua genialidade. Estou sem palavras… restam as imagens.

Não se sabe quais os motivos para o suicídio, mas o estilista havia perdido a mãe há poucos dias. Em seu twitter, que já não está mais no ar, o estilista escreveu:

“i’m letting my followers know the my mother passed away yesterday if it she had not me nor would you RIP mumxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx11:46 AM Feb 3rd from web”

“but life must go on!!!!!!!!!!!!!!!11:47 AM Feb 3rd from web”

“sunday evening been a fucking awful week but my friends have been great but now i have to some how pull myself together and finish with the12:38 PM Feb 7th from web”

“HELLS ANGLES & PROLIFIC DEAMONS!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!”

“im here with my girl annie tinkerbell wishing kerry the slag ,happy birthday in NY ,your 40 now girl time to slow it down we think.”

RIP Alexander McQueen!

10 looks para 2010

10 looks que vão influenciar 2010

Aproveitando o final de ano, fui rever os desfiles de primavera-verão 2010 do hemisfério norte para identificar tendências e possíveis influências nas apresentações brasileiras que estão por vir.

1. Uma das grifes mais copiadas no planeta fashion, a Balenciaga de Nicolas Ghesquière mostrou looks urbanos e atléticos, com um leve toque tribal visível nos sapatos e na maquiagem. As calças justérrimas, os tops com capuz e patchwork de listras, devem ganhar as ruas em versões mais acessíveis, feitas pelas redes de fast fashion.


O tribalismo atlético da grife Balenciaga
O tribalismo atlético da grife Balenciaga

2. As mulheres mitológicas de Alexander McQueen, oriundas de uma Atlântida platônica, usam vestidos curtíssimos com estampas digitais ultra sofisticadas. Peles de répteis e motivos marinhos são as padronagens que adornam o corpo da nova raça humana, na visão pós-apocalíptica do estilista.


A princesa submarina de McQueen
A princesa submarina de McQueen

3. Christophe Decarnin deve repetir o sucesso de suas últimas coleções para a Balmain, desta vez com casacos militares de ombros marcados, camisetas perfuradas a bala, calças skinny e vestidos que remetem a um estilo meio Pedrita, meio gladiador. É fácil visualizar o look rebelde glam, que reúne peças destruídas com outras enfeitadas, se alastrando no mercado de grande difusão como fogo num rastro de pólvora.


O militarismo sexy de Dercarnin, na Balmain
O militarismo sexy de Dercarnin, na Balmain


4. Mais uma inspiração primitivista, desta vez na passarela da Rodarte. Para compor o figurino de suas mulheres guerreiras, as irmãs Kate e Laura Mulleavy juntaram pedaços de materiais variados, como tecido, couro, renda, plástico e crochê,  criando drapeados elaborados, orgânicos. O luxo, aqui, tem aspecto de destruído, empoeirado, envelhecido.


Os andrajos chiques da Rodarte
Os andrajos chiques da Rodarte

5. Eu achava que nunca mais, nesta encarnação, conseguiria olhar para um lenço palestino sem sentir uma onda de tédio tomando conta do meu ser fashionista.  Mas Riccardo Tisci conseguiu recriar a padronagem do lenço keffiyeh de maneira espetacular, na coleção da Givenchy. Distorcida, a padronagem ficou meio psicodélica, e me lembrou os desenhos de M.C. Escher.


O lenço palestino, quem diria, foi desfilar na Givenchy
O lenço palestino, quem diria, foi desfilar na Givenchy

6. Até agora, todas as imagens selecionadas, embora diferentes entre si, tinham como denominador comum um tom de rebeldia apocalíptica. Mas os desfiles de primavera-verão do hemisfério norte também foram pródigos em feminilidade. E o da Lanvin é o exemplo máximo disso, com Alber Elbaz mostrando, mais uma vez, grande apuro técnico em peças com babados espiralados, bordados fabulosos e drapeados de gênio. Difícil eleger um look, entre tantos objetos de desejo, mas os macacões, ah…


O glamour impecável da Lanvin
O glamour impecável da Lanvin

7. Muita gente acha que Phoebe Philo merece o crédito por ter criado as melhores coleções da Chloé, entre 2001 e 2006, período em que substituiu Stella McCartney na direção criativa da marca. Agora, ela está a caminho de tirar a Celine do segundo time de grifes francesas. Esta sua segunda coleção na maison, de primavera-verão 2010, aposta num minimalismo acessível e impecável, com um toque utilitário e sedutor.


A Celine entra no primeiro escalão da moda, graças a Philo
A Celine entra no primeiro escalão da moda

8. Os drapeados e as referências militares, que apareceram em quase todas as coleções desta estação, se uniram para revitalizar os tradicionais trench coats da Burberry. A marca britânica, dirigida por Christopher Bailey desde 2001, mostrou muitas versões de seu icônico casaco, com drapês nos ombros, nas costas, nas saias. Por baixo,  os vestidos de tule de seda foram trabalhados com a mesma técnica.


A reinvenção de um clássico da Burberry
A reinvenção de um clássico da Burberry

9. Lauren Bacall foi o símbolo escolhido por John Galliano para resumir uma coleção calcada no glamour hollywoodiano. Apesar do trench coat ter dado as caras por aqui também, foi quando o estilista resolveu remexer na gaveta de lingeries que a coisa pegou fogo.  Sutiãs, ligas e badydolls se transformaram em vestidos luxuriantes, para femme fatale alguma botar defeito.


Luxo e luxúria na Dior
Luxo e luxúria na Dior

10. Escolher este último look, numa estação não muito inspirada, foi uma tarefa dura. Vi e revi os desfile uma dezena de vezes. Para não repetir a Lanvin (ah, aqueles drapeados…) e levando em conta que a volta do tailleur está em pauta, acabei escolhendo um look da Chanel. Não que eu não tenha gostado da coleção do kaiser Karl – que foi jovial e fresca, com transparências, rendas e texturas artesanais enfeitando as peças – mas é que não vi nada de tão inovador ali. Foi bonitinho, e só.


O tailleur Chanel: para menores de 21 anos
O tailleur Chanel: para menores de 21 anos

olho vivo

Vale a pena ver o vídeo da Lookonline.com feito pela editora-chefe Marilyn Kirschner, que fala sobre as coleções de outono-inverno 2009 do hemisfério norte.

Para quem não entende bem inglês, vou dar uma resumidinha aqui. Ela começa falando algo que parece um pouco óbvio, mas que é bom lembrar: para a maioria dos seres humanos normais (o que exclui mulheres de milionários que gastam 25 mil dólares em roupas por semana) a função dos desfiles é servir como uma inspiração, mais do que um guia prático de compras. Uma fonte de informação que cada um deve filtrar de acordo com sua própria visão e estilo.

Entre as novidades mostradas nas passarelas há sempre algo que vai definir a estação e que pode ser um acessório, uma combinação de cores, uma peça-chave, uma nova proporção, um clima ou uma idéia. A verdadeira sacada está em olhar com outros olhos, estar aberto para o novo.

Como o recente desfile (teatral e elogiadíssimo pela crítica) de Alexander McQueen, em que ele mostrou – sobre uma passarela de espelhos quebrados – versões recicladas de clássicos como o New Look de Christian Dior, os tweeds de Chanel, algumas ideias de Yves Saint Laurent e outras tantas próprias. Com essa encenação, ridicularizou o fast fashion, o consumismo e a eterna reinvenção de estilos e décadas. Além de mostrar algumas roupas sensacionais, é claro!

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Na passarela de McQueen, bocas de palhaço e roupas que parodiam épocas e estilos

E já que o estilista foi revirar o baú em busca de idéias, Kirschner sugere que façamos o mesmo: que sacudamos a poeira daquele um blazer com ombreiras pontudas dos anos 80. E que assaltemos o guarda-roupa do namorado, marido ou pai, em busca outra peça importante: o “camel coat”, ou mantô de lã camelo. Ele apareceu nos desfiles de Donna Karan, Dries Van Noten e Derek Lam, em versões desestruturadas e oversize.

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À esq., camel coat de Dries Van Noten, à dir., Donna Karan

Quanto a cores, a editora sugere observarmos a sofisticada mistura de tons de Dries Van Noten. ou, algo mais simples, o mix de pink com preto de Marc Jacobs, que pode ser usado em pequenas porções: uma fita amarrada no lugar do cinto, um acessório, ou até mesmo um batom rosa. E uma vez que o preto é uma cor onipresente, outra opção é incluir toques de vermelho, como fez Yohji Yamamoto.

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Acima, looks de Dries Van Noten, um colorista de mão cheia

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Aqui, o rubro-negro de Yohji Yamamoto e o rosa chiclete de Jacobs

E o grande destaque, em termos de renovação de conceitos, fica mesmo com Rei Kawakubo, da Comme des Garçons. Kirschner avalia que a estilista japonesa, apesar de fazer uma moda nada comercial, fornece grande inspiração com suas sobreposições. Não é preciso ser literal, basta pinçar  algumas ideias da passarela: amarrar um xale na cintura, por cima de leggins, colocar um vestido de trás para a frente, ou sobrepor uma parka militar a um vestido de festa.

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Proporções e sobreposições para poucos e bons entendedores