Marie Rucki no Brasil: A moda é uma deusa muda

retrato em preto e branco de Marie Rucki usando um turbante

Curiosa a reportagem publicada hoje na coluna da Mônica Bergamo, sobre Madame Marie Rucki na 25 de Março. Mostra bem algumas facetas do universo fashion made in Brazil. E me lembrou que tenho ainda algum material para postar, extraído das conferências com ela.

Falando sobre o preço elevado das roupas: “Me disseram que no Brasil as roupas são muito caras. Bom, é preciso dizer que a moda precisa do sonho. Aquela roupa maravilhosa, cujo preço é 3 vêzes o valor do seu salário, custa caro por muitos motivos, pela qualidade, pelo tecido, pelo acabamento. Então você precisa economizar para tê-la.”

“O gosto é uma característica que pode ser desenvolvida, como a inteligência.”

“Não há explicação para a genialidade dos criadores e é isso que é realmente fascinante.”

“As pessoas, quanto mais criativas, mais precisam trabalhar para saciar sua mente.”

“É preciso estudar os ciclos de criação. Nos séculos 18 e 19 há uma evolução dos volumes, dos vestidos retos até aqueles com crinolinas, mas não há uma verdadeira criação. No início do século 20 aparecem Poiret, Chanel e Balenciaga…”

Modelo usa vestido de linhas soltas do estilista Paul Poiret
Vestido de Paul Poiret

“Com Poiret surgiu o conceito de estilista como conhecemos hoje. Ele era um criador intuitivo, descartou os corseletes da Belle Epoque e inventou a silhueta solta, inspirada no período do Diretório, usando tecidos orientais Chanel, por sua vez, tinha uma expressão oposta a Poiret. Ela democratizou a moda optando pela simplicidade, pelo pretinho básico. Também disseminou o uso do tailleur, concebido como uma versão feminina do terno dos homens. Era um traje pensado para corresponder às novas atividades da mulher, depois da Segunda Guerra Mundial, e levava em conta o espírito da época, como a crescente velocidade e os deslocamentos aéreos. Mas ela não inventou uma roupa.”

Modelo posa em frente à Maison Chanel, usando o famoso tailleur
O clássico tailleur Chanel

“Já Balenciaga foi um inventor. Ele criou, do ponto de vista técnico, o vestido chemisier. Sua roupa tem relação com a arquitetura da época (anos 50), por sua característica abstrata.” Veja foto abaixo.

Alberta Tiburzi com vestido envelope de Cristóbal Balenciaga. Harper's Bazaar, Junho de 1967. Foto: Hiro 1967
Alberta Tiburzi com vestido envelope de Cristóbal Balenciaga. Harper’s Bazaar, Junho de 1967. © Hiro 1967

“Nos anos 50, o jeans é introduzido na moda, graças a filmes com Marlon Brando e James Dean. Perceba que o fenômeno da celebridade influenciando a moda, já estava acontecendo aqui.  Nos anos 60 surge a minissaia, uma grande revolução em termos estéticos, em sintonia com o que acontecia na sociedade, como a liberação sexual, a pílula, etc. Nos anos 70, a conseqüência natural é o movimento hippie. Nos anos 80, os japoneses, como Rei Kawakubo e Yohji Yamamoto, vêm mostrar que roupas despedaçadas podem ter elegância. O trabalho de Kawakubo acompanha o trabalho da coreógrafa Pina Bausch, que vê o mundo de forma explosiva e caótica.” Abaixo, foto do desfile de Kawakubo, outono de 1999.

Modelo desfila look xadrez da marca Comme des Garçons, Outono de 1999.

“Viktor & Rolf usam a moda para se expressar, mas não seguem as regras da criação da moda. São como artistas de circo. Inovar seguindo as regras das vestimentas é muito mais difícil e mais importante. O trabalho deles se insere no terreno da performance artística.”

Modelo desfila look que parece um edredom e travesseiro, de Viktor & Rolf.
Look de Viktor & Rolf

“A moda é uma deusa muda que se afasta quando nos aproximamos dela.”

Todas as citações são de Marie Rucki, extraídas das conferências feitas no Brasil.

Confira também a entrevista feita com Marie Rucki pela SPFW TV.