Oficina de sensações

A esta altura, acho que muita gente já se habituou a ver aqui, às sextas-ferias, a coluna Tesouros Sem Frescura de Liliane Oraggio. Acho até que tem gente que espera ansiosamente (como eu!) pelos textos preciosos, inspirados. E desta vez, ela fala de um workshop capaz de trazer à tona o brilho eterno de algumas mentes criativas. Conta tudo, Lili!

De dar água na boca e nos olhos

Agora estou de olhos fechados. Sim, vou fazer este post na escuridão, pálpebras cerradas, luzes apagadas, apenas sentindo as teaclas coordenadas com o movimento apreendido dos meus dedos. Não vou corrigir erros de grafia ou pontuação, a mente do leitor vai complear facilmente as frases. Por favor, estou compremetendo a minha correção joornalística com a intenção de que as imperfeiçoess aqui serem aceitas, como parte intrínseca do caminho até o novo, até o que não existe ainmda. não serão erros, apenas experiencia. Combinado?Vamo? Isso faz sentido depois da tarde inusitada que vivi na ultima quartafeira (ja não lembro onde é o hífen]…

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A Designer mineira Mary Arantes, que faz as bijoux mais doces e cativantes que eu conheço, coordennou a oficina Comer com os Olhos, no Zigue*Zague, evento paralelo ao SpFAshion Week. Comer com os olhos também foi o nome de sua ultima coleçao que exaltou os cinco sentidos: “A minha arte sempre reinventa outras artes. Fiz uma longa pesquisa sobre olfato, tato, paladar, audição e me dei conta do quanto a nossa cultura prioriza a visão. Aí ser fez necessário aprender com os deficientes visuais como é viver sem enxergar, sentir sem ver”, diz ela a platéia de vinte eicnco pessoas, reunidas em torno de uma távola quadrada. O convite era para que todos se fartassem com certas misturas, pois Mary faz bijous juntando pérolas com folhas de louro, cordões de cetim com anis estrelados, macarr~~ao e fios de seda, biscoisto de polvilho e veludo, nozmoscada com voal. Numa alquimia de formas, cheiros e texturas.Todo esse material irresistível estava a disposição, para que cada um de nós  se servisse a vontade e degustasse produzindo colares, pulseiras, anéis. “Não vou ensinar nada. Cada um de voces já é criativo e vale a experiência. ”, disse a anfitriã.

Entre os participants havia trêss mulherees , deficientes visuais,  da Associação dos Deficientes Visuais e Amigos, feras no Braille e na vida cheia de superações. “Eu não entendo o que é o azul petróleo. Só enteendo os azuis comparados com aquele que eu conheci. E para mim petróleo é preto”, disse a Yacopina a mais falante do trio. “Quando já estou acostumda com a roupa fica fácil combinar as cores e os modelos, mas quando é roupa nova leva um tempo para decorar”, contou ela ao estilista Geraldo Lima, que fez da relaçao da cegueira com a moda o tema de sua tese de mestrado. Vera Lúcia tateou os bowls cheiso de contas e outras delicias e logo escolheu as estrelas de anis e os canutilhos de canela , sentindo cada peça antes de resolver a orndenaçãoop.  e, numa excitação de criança fazendo traquinagem , dizia. “ Nossa, olha, que bonito”, assim via s em ver e com muito a destreza ia juntandoos fragmentos do seu colar amoroso. Yacopina preferiu os cordões de cetim, marroons e com aajuda do Geraldo passou por todas as encruzilhadas da sua invenção tateada. Não que ela não soubesse tudo, a maneira ágil e precisa com que construiu a seqüência da sua obra primeira foi incrível. De seus dedos foi surgindo o cordao trançado com o que há de mais poético na regularidade, na repetição dos padrões. “É só fazer o esquema mental e seguir a senquencia”, disse assim como sefosse coisa simples…

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Esse segredo tao fácil de ser desvendado por Yacopina, foi o desafio aceito por Claudia, que enxerga e muito bem. A moça foi a unicca da sala que se aventurou a abandonar o mundo visual,e, de olhos vendados, pela própria Mary, seguiu o caminho do mistério. “Quando veio o escuro fiquei toda arrepiada, me deu um frio por dentro, achei quenao ia conseguir. Tinha que prestar atençao dobrada  , fiquei perdida e tive que ir mais devagar. Fui me acostumando, fazendo as amarrações  e fui me acalmando”, conta ela depois de concluir o colar compotso de cordös e pedaços de voal.

Em alguns momentos, a concentração era absoltua, o silëncio se instalava como se fosse o alimento insubstancial que acompanha os flashs da criação, feita de muiotas, muitas escolhas e hesitações.

“continuo de olhos fechados, telcando…, agora me preoucpo se errei muito.

Na hora do workshp eu fiquei mesmo de olhos bem abertos, fotografando tudo, como se fosse possível registrar a ternura da Mary ao ensinar, literalmente, os segredos de suas receitas enviezadasL “ os cordões sãoo feitos de cetim barato, mas fica asism quando é cortado de viés. Isso faz toda a diferença”. Informação quentinha, de bandeja pra quem ouviisse.

Também fiquei de olho na alegria dos jovens estilistas, que mexiam com o matedrial inusitado e iam na liberdade  ação tecendo acessórios onde cabia cor, variações  em série , no sabor do acerto e erro.

E tinha uma figura que me fez agradecer o prazer que é olhar. A japonesa Miki, artista plástica, escritora, bonequeira e inventora de mil e uma delicadezas, vestia com uma capa de renda azul birlhante que, por incivel que pareça, combinava perfeitamente com uma tiara de plumas salmon, claro, inventada pela Mary. E os óculos? E os sapatos? E o sorriso de timidez de sol nascente. Um deleite de visual retrô borbulhante… Das mãos dela vi nascer uma coleção de anéis: em mintuos fez meia dúzia de lindezas, com nós, perolinnhase uma pitada de … cola quente: “Cola quente é tudo! Foi a Miki quem me ensinou a \\que pano também pode adorar adornar as mãos.  Passamos a tarde nessa nutriçáo esbanjada, de muitas descobertas, implícitas e explicitas,. Além do que fizemos, la mesmo já começou  o processo de querer mais. Era Gula pelo criativo!~~> Yacopina, Vera Lúcia e Sandra terminaram a tarde reluzentes, elas mesmas eram as jóias enfeitas por suas bijxous. E juntos estávamos na comunhado da refeiçao bem preparada, em décadas de prática e apuro da mestre -cuca (naada fresca) Mary.

Ainda continuo escrevendo     de olhos fechados… o lfuxo de pensamentos traz de volta os gestos das tantas mãos, atiçadas pela textura dos fios, pelo perfume da lavanda d ,  das especiarias. Enqautno digito, graças a deus fiz datilografia quando era menina,  no escuro, me embreago com todas as sesaçoes brotadas frescas naquela sala sem janelas do Museu Arte Moderna de São Paulo.

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Antes de sair, como tenho sangue caipira também, resolvi fazer um farnel, pra levar do que tinha de melhor e lembrar do banquete já quando ele não mais existisse. Recheei um pedço de voal com um pouco de cada iguaria:  caprichei na quantidade lavanda e nas perolas grandes, um cordao fúcsia, um encarnado, linha seda e forminhas de metal. O colar que eu fiz também foi pro pacote que amarrei com fitas azuis e verdes. Quando saímos, aalma a estavva macia e doce pela sobremesa que foi tudo, do começo ao fim… Voltei pra casa num contentamento infantil abri o farnel e fiquei lá … degustando, agora no silencio, agora já conhecendo  o que no mesmo dia de manha era mistério. Fiquei até as duas da madrugada trabalhando em um anel decetim cor de coral, com perolinhas e muitos arremates… pensando em como fazer este post. AS duas da manhã fui pra cama. Lembrei que não tinha comido nada desde o almoço. Não precisava… acho que isso deve ser parecido com a quela historia de so se alimentar de luz… Peguei no sono com  a gratidão por compartilhar de tanta riqueza ã mesa, e ã moda da Mary.

Agora, já quase meia-noite do dia seguinte, enquanto estou digitando esse texto minhas pálpebras descansam e só as imagens de dentro tomam conta. nesse ver o dia pelo avesso , fico com água na boca, com águanos olhos e agradeço de novo. Santa Luzia passou por aqui, toda enfeitada, com seu cavalinho comendo capim!

Por Liliane Oraggio

Tem mais fotos nesse álbum, AQUI

outro viés

Adorei a entrevista do Vitor Angelo com o Nelson Leirner, hoje, na Folha de São Paulo. Desde sempre gosto dessa ideia de convidar outsiders para comentar assuntos alheios ao seu universo habitual. Neste caso, um grande nome das artes plásticas “olhando” para os desfiles de moda. Nada como uma uma visão “fora do quadrado” para iluminar novos ângulos, coisas que passam batido por quem é do meio e está com o olhar viciado.

Para aqueles que não tem acesso ao jornal, reproduzo aqui.

“Osklen pensa no show; Maria Bonita, na pessoa”, diz Leirner

VITOR ANGELO  – COLUNISTA DA FOLHA

Um dos principais artistas plásticos brasileiros, Nelson Leirner, 78, faz amanhã, às 10h30, no auditório Museu de Arte Moderna, uma palestra sobre arte e moda. Leirner compareceu duas vezes a desfiles da SPFW. A primeira, para ver a apresentação da Osklen, no domingo. Ontem, para assistir à da Maria Bonita, inspirada na arquiteta Lina Bo Bardi.

Nos anos 60, o artista fundou o Grupo Rex junto com Wesley Duke Lee e Geraldo de Barros. Eles divulgaram o “happening” no país e propagaram uma atitude irreverente e crítica em relação ao sistema das artes. Procurando sempre novas formas de expressão, Leirner não poderia deixar de incorporar a roupa ao seu arsenal criativo. Criou peças para a Rhodia que estão no Masp, dentro da coleção “roupa de artista”, e desenhou para o Carnaval, nos anos 70, um look batizado de “stripper em cores”, cheio de zíperes que podem ser abertos enquanto a pessoa dança. No ano passado, realizou para o Museu do Vale uma intervenção, “Vestidas de Branco”, só com vestidos de noiva de segunda mão. “Para quem quer fazer uma crítica ao consumismo, a moda é um excelente material”, diz Leirner a seguir.

FOLHA – O que você achou dos desfiles da Osklen e da Maria Bonita?
NELSON LEIRNER – Oskar Metsavaht conseguiu alcançar um status de arte ao transformar a roupa em forma escultórica. O próprio feltro modifica totalmente o corpo em escultura. O volume que você pode adquirir com o feltro é diferente do que com a seda, que é mole, porque ele é rígido e difícil de usar. A Maria Bonita captou a Lina [Bo Bardi] arquiteta, não a Lina ligada à arte popular. Gostei dos geometrismos, dos espaços vazados, das sobreposições, que me lembram [Lucio] Fontana [artista plástico]. Existe o estilista do show e o que pensa na pessoa, como a Daniela [Jensen, estilista da Maria Bonita]

FOLHA – Oskar Metsavaht foi o estilista do show?
LEIRNER – Ele pensa mais no conceito, no show, não na roupa humanizada. Já a Daniela pensa no outro, na pessoa. Não acho nem melhor nem pior.

FOLHA – A moda pode ser arte?
LEIRNER – Desde que Duchamp se apropriou de um mictório e o colocou numa exposição, tudo pode ser arte. A moda é muito relacionada ao consumo. Para quem quer fazer crítica ao consumismo, ela é um excelente material.

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E a palestra de Nelson Leirner acontece no ZigueZague, no MAM de São Paulo, com a curadoria de Cristiane Mesquita. Não sei se ainda existem vagas para as atividades… Tenta lá!

reflexão é tendência

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Não só de aparência e superficialidade vive a temporada de moda. Paralelamente aos desfiles do SPFW, acontece o ZIGUEZAGUE –evento organizado por Cristiane Mesquita e Thais Graciotti–, de 19 a 22 de junho, no MAM (Museu de Arte Moderna).

A alguns passos da Bienal, uma série de convidados superespeciais se reune para oferecer sua experiência e expertise em palestras, oficinas e conversas, com entrada gratuita, ou quase. “O intuito é produzir reflexões sobre as transversalidades da moda que dialoguem com os acontecimentos do SPFW”, explica Cristiane Mesquita.

Veja só quem participa desta edição: os estilistas Jum Nakao e Karlla Girotto, o designer Gerson de Oliveira, os artistas plásticos Érika Verzutti e XU, e a pesquisadora Laura Novik, da Blink Design, entre outros.

Para saber mais, acesse o site do MAM ou acompanhe pelo blog ZIGUEZAGUE.

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