espalhando arte e inovação

Já conhece o The Creators Project? É uma ideia muito bacana que pretende, segundo a definição de seus criadores, “celebrar a criatividade e a cultura entre os meios de comunicação ao redor do mundo. O Projeto surge em um momento da história da arte em que as tecnologias digitais têm revolucionado a distribuição, democratizado o acesso e reimaginado o escopo e a escala com que cada artista pode idealizar uma visão e alcançar um público. The Creators Project é um de canal de artes e cultura completamente inovador desenvolvido para um mundo completamente novo”.

Conteúdos impressos e digitais serão distribuídos através do site, de exposições, debates e instalações em vários centros urbanos ao redor do mundo, a partir de junho. A primeira cidade a receber o projeto será Nova York, e em seguida virão Londres, São Paulo e Seul, culminando com um enorme evento em Pequim, em setembro.

Atualmente, o site mostra, entre outras coisas, um vídeo bem legal com Muti Raldolph, artista multimídia que já fez a curadoria do espaço da Bienal durante o SPFW (foto acima), criou cenários memoráveis para desfiles (como uma enorme onda tridimensional, feita de isopor fatiado) e  idealizou o D Edge, um dos clubes noturnos mais interessantes do país.

Outros artistas que  já foram entrevistados pelo Creators Project são: o DJ e produtor Diplo, o músico chinês Sulumi, a banda francesa Phoenix. Mas muitos outros já estão programados: Jum Nakao, Mixhell, Alexandre Herchcovitch, Spike Jonze, Mark Ronson… A lista é longa. Espia lá que vale a visita!

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Foi um daqueles momentos históricos, em que você prende o ar, sentada na ponta da cadeira, com os olhos e os pensamentos em rebuliço, tentando decodificar tudo.

Alexandre Herchcovitch saiu da zona de conforto e se jogou no mundo dos esportes coletivos como rugby e futebol americano, em seu desfile de verão 2010, que aconteceu ontem na SPFW.  O estilista reconstruiu os uniformes, inflou ou secou os volumes, usou as armaduras dos uniformes para desenhar o corpo, em ombreiras e crinolinas monumentais. Jogada de mestre.

No meio da explosão de formas e cores, me pergunto: que figuras são essas? Jogadoras cibernéticas, Pokemons evoluídos de uma Belle Époque do futuro? Às vêzes é bom deixar a mente divagar, sem saber as respostas prontamente.

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Fotos: Rafa Assef e Olivier Claisse / Ag. Fotosite

PS – Muito bom o texto assinado pelos jornalistas Alcino Leite Neto e de Vivian Whiteman sobre o desfile, na Folha de São Paulo de hoje (19/06/09).

“Ao explorar o mundo dos campos esportivos, Herchcovitch deixou de lado o futebol brasileiro, aquele cuja técnica está mais para a dança do que para o confronto violento -característica essencial da versão americana do bate-bola e do rúgbi. ”
“Interessante notar como essa escolha revela o entendimento do estilista sobre o que é a moda: um “esporte” de equipe, no qual a inspiração precisa necessariamente vir acompanhada de um embate direto e brutal com as formas do corpo. Sem contar os conflitos, esses ainda mais duros, com as barreiras da área comercial. “

nova visão

É hora de reforçar a galeria de imagens inovadoras.

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Danielle Jensen, estilista da Maria Bonita, conseguiu traduzir o espírito dos jangadeiros numa coleção belíssima e sofisticada. As redes de pesca se transmutaram em roupas que parecem flutuar no corpo.

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Reinaldo Lourenço mostrou uma série de tramas elaboradas, de tirar o fôlego!

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As guerreiras de Alexandre Herchcovith têm ombros fortes, adornados com cascatas de babados.

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Depois de passear de barco pelo rio São Francisco, Ronaldo Fraga criou um cardume de mulheres-peixes.

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André Lima deve ter aprendido a fazer origami com algum mestre japonês: seus vestidos transformaram as modelos em flores e borboletas!

[Fotos: Charles Naseh/Chic]

passado e presente

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Adorei a trilha sonora do desfile masculino de Alexandre Herchcovitch: uma música chamada “The Past is a Grotesque Animal” do Of  Montreal.

Sabendo que o estilista é bastante minucioso em tudo que se refere ao seu trabalho, me pergunto se a escolha teria algo a ver com o título, além, é claro, da sonoridade. Seria uma referência ao seu passado recente, à frustrada negociação com o grupo I’M?

De qualquer forma, a música intensa e melancólica criou o clima perfeito para o desfile de referências multiétnicas. Ouça aqui!

[audio:OFMONTREAL.mp3]

promessas vazias

No início deste mês conversei com meu amigo Marco Sabino (designer de acessórios, autor do Dicionário da Moda e do site que leva seu nome) e ele estava indignado com a notícia de que o grupo I’M, Identidade Moda, tido como o novo mecenato da moda brasileira, estaria em sérias dificuldades financeiras e não teria concretizado os contratos de compra –anunciados com estardalhaço pela imprensa nacional– das marcas Cumplice, Alexandre Herchcovitch e Fause Haten.

No dia 11 de março, Marco Sabino expressou essa indignação no próprio site. Segue o texto, intitulado: E O IMBROGLIO FASHION NACIONAL?

“As notícias chegam a conta-gotas. Gloria Kalil assinou um editorial dando uma pincelada no assunto e a Raquel Marangoni do Fashion Prime escreveu uma matéria com dados fornecidos pela agência O Estado.
Mas, afinal, o que é isso? Uma brincadeira? Na minha opinião, está acontecendo uma grande falta de respeito tanto com a mídia quanto com os leitores.
Falta de respeito com a mídia que, ingenuamente, mas avidamente, deu capas, matérias, notas, artigos, fotos e muitas e muitas laudas para a nova era da moda brasileira.
Falta de respeito com os leitores e interessados nos assuntos do setor que costumam acreditar tanto nas marcas envolvidas quanto nas informações contidas nas páginas da imprensa. Não só nas de moda como nas de economia e finanças. Quantas vezes você leu sobre o novo chefão da moda brasileira? Quantas vezes você leu a declaração de alguns estilistas dizendo que tiveram de fazer um grande exercício de desapego material para vender suas marcas? Como a era fashion tupiniquim, à la PPR e LVMH, segundo informações colhidas até o momento, parecem não passar de um engodo? Na minha opinião, nenhum dos envolvidos está livre desse imbroglio fashion. Ninguém pode ser tão ingênuo assim. As marcas que aceitaram se promover e permitiram a divulgação das matérias são cúmplices e reféns dessas ainda nebulosas mentiras.
E como ninguém assinou nada?
Como as pessoas têm a cara de pau de dar entrevistas reais sobre situações que ainda não haviam acontecido?

Isso é profissionalização?
Vamos esperar para ver no que vai dar, mas eu acho tudo isso uma vergonha!”
Por Marco Sabino

Hoje, na coluna Última Moda, de Alcino Leite Neto, na Folha de SP, veio a confirmação de que Alexandre Herchcovitch deve retomar o controle sobre suas duas marcas (pret-à-porter e jeans) devido ao não pagamento do valor combinado.

Segundo a matéria: “Em março a Cumplice negou ter completado o negócio com a HLDC. Fause Haten teria sido o único que de fato assinou o contrato de venda de sua grife, mas também estaria tendo problemas no cumprimento do contrato.”

O que mais chama a atenção, nesta história absurda, é não só a leviandade destes “homens de negócios”, como a indiferença da mídia diante disso. Estou com o Marco Sabino, acho tudo isso uma vergonha! Vamos fazer de conta que não aconteceu nada? Vamos varrer pra debaixo do tapete?

aula de matemática

 O desfile de Alexandre Herchcovitch começou ao som de “Born, Never Asked”  de Laurie Anderson. 

“It was a large room. Full of people. All kinds. And they had all arrived at the same buidling at more or less the same time. And they were all free. And they were all asking themselves the same question: What is behind that curtain?”  

[audio:BornNeverAsked.mp3]

Nada mais apropriado: todas as pessoas ali estavam mesmo se fazendo a mesma pergunta: O que há atrás da cortina?

E a resposta veio na forma de uma equação matemática que balaceava formas, volumes e cores de modo magistral. A começar pelo sapato com palito no salto.

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Passando também por xadrezes mixados com recortes de cetim, boleros armados tipo crinolina, cavas ovaladas, mangas de falso astracã, e muitos outros detalhes de modelagem, característicos do trabalho de Alexandre.

No final do desfile, uma última música de Laurie Anderson –“Language is a Virus”, inspirada na frase do escritor William Burroughs: “language is a virus from outer space”– sinaliza que o estilista comunicou sua mensagem. Agora a notícia vai se espalhar pelo mundo, como um vírus, à medida que o público, os jornalistas e os fotógrafos deixarem a sala.

Cusiosamente, uma outra marca já fez essa mesma associação entre a música de Laurie Anderson e as formas geométricas das roupas. Foi a Maria Bonita na estação passada, primavera-verão 2008. Na época eu fiz um post sobre moda e música, que você pode reler aqui.

Reveja a coleção de verão da Maria Bonita, no desfile que aconteceu em junho de 2007.

Talvez algumas pessoas fiquem tentadas a considerar que houve cópia mas, para mim, é mais uma questão de sintonia e de coincidência.