O diabo veste Calvin

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Muito boa a entrevista com Francisco Costa, estilista da Calvin Klein, publicada na páginas amarelas da Veja desta semana. Destaco algumas partes, mas recomendo a leitura integral.

 Veja – Não é impossível ficar fora do clima de O Diabo Veste Prada?
Costa —
Sou muito exigente. Detesto preguiça, gente que não gosta de pensar. Fico instigando quem trabalha comigo o tempo todo, e algumas pessoas já saíram da minha equipe. Disseram que não agüentavam mais a pressão. Mas moda é isso. Se você está ali para competir, tem de saber que trabalha 24 horas. Não é uma área light. É pesadíssima, com pressão de todos os lados. É um martírio. Você se expõe em lojas e revistas, seu trabalho está sempre em evolução e à disposição do mercado. Mesmo quando não está trabalhando, precisa estar ligado em tudo para buscar inspiração. Sou muito intenso no trabalho, deixo todo mundo louco.”

Veja – Vestir celebridades é uma atividade essencial na moda de hoje. Como é participar da guerra entre grifes para dominar o tapete vermelho?
Costa – Para ser honesto, acho essa parte da moda um saco. A briga entre os figurinistas das atrizes e os estilistas das grifes é tamanha que a relação perdeu o respeito. Dois anos atrás, quando Hilary Swank concorreu a vários prêmios com Menina de Ouro, fiz o vestido dela para a entrega do Globo de Ouro. Depois, pediram que eu também criasse o que ela usaria no Oscar. Não só fiz o modelo como encomendei um cinto de diamantes no valor de 3 milhões de dólares que era um escândalo. Fiz umas oito provas do vestido com a Hilary. Mas, no dia, para nossa surpresa, ela apareceu no Oscar com um modelo de outra grife. Foi um desastre. Não vejo glamour nessa história. É uma guerra da qual todos somos obrigados a participar, mas esse mundo da moda voltada para as celebridades não é chique, ficou muito vulgar. Para piorar, hoje muitas delas têm as próprias linhas de roupa. Acho um absurdo ver o Puff Daddy (cantor de rap que é dono da marca Sean John) receber o prêmio de melhor estilista do ano. Isso é uma desmoralização.

Veja – É uma tarefa difícil substituir um ícone americano como Calvin Klein. Qual deve ser a sua marca pessoal na grife?
Costa – Em seus 35 anos de carreira, Calvin optou pelo minimalismo. Entrar ali e fazer o mesmo que ele fez seria medíocre. Finalmente, depois de quatro anos, acho que cheguei à nova essência, a um balanço, na coleção apresentada em fevereiro passado. É um minimalismo atual, mais sexy, mais feminino, um pouco mais decorativo para driblar a competição. Hoje, você tem de oferecer mais: ninguém quer um blazer de três botões simplesmente por ser um blazer de três botões. Isso ele encontra hoje nas linhas mais populares. Tenho de oferecer algo diferente.

Veja – O que é chique hoje? Você concorda com os estilistas que falam que é possível usar tudo hoje em dia?
Costa –
Não dá para ser chique usando tudo o que se quer. É claro que hoje existem muitas opções na moda. Mas ser chique é conhecer o próprio corpo, entender de proporção. Se você tem pernas bonitas, pode ter como assinatura uma saia num determinado comprimento que as mostre. E também acho que ser chique é ser clássico, não é seguir todas as tendências que aparecem. Isso é coisa para um mercado mais popular. O estilista tem a função de instigar, de agir como antena do dia-a-dia, do mundo em que vivemos hoje. Mas a mulher não pode ir atrás de todas as novidades.

Veja – E as brasileiras? Qual é o grande pecado que cometem no vestir?
Costa –
Sabe o que eu detesto? Barriga de fora. Digo para as minhas sobrinhas: que barrigada de fora é essa o tempo inteiro? Acho péssimo. Também acho que a brasileira está complicando muito, usando jeans com muitos detalhes, por exemplo. Seria bom voltar à simplicidade. A brasileira acerta mais quando está natural. A gente já tem fama de ser muito sensual. Se usar muita coisa, vulgariza. Entendo que a exuberância brasileira vem das formas da natureza. Mas cresci cercado pela simplicidade. A arquitetura dos sobrados mineiros, por exemplo, é de linhas minimalistas. Minha irmã se vestia muito de branco, com roupas feitas de algodão. Existe essa simplicidade quase monástica na essência do trabalho do Calvin, que é muito parecida com as imagens da minha infância e da minha adolescência

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